Ser Vasco é preciso

Ser Vasco é preciso


Só o time da Colina pode desbravar novamente uma campanha pelo futiba de massa


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, a caravela
saiu do escudo, do peito do vascaíno, e até agora
singra ruas e mares, que festa merecida, depois do
triunfo do mais nacional dos campeonatos.
O mais nacional e o menos elitista, o torneio da
gente diferenciada, como diriam em Higienópolis.
Nenhum time mais que o Vasco da Gama, o nome
do heroico português, merecia o título nessa hora.
Nessa grave hora, amigo, em que o futebol, assim
como na sua chegada à nossa pátria, embranquece
de novo, caminha para uma elitização medonha,
com ingressos ao alcance de poucos. Navegar é preciso, ser Vasco agora é mais preciso ainda.
O Vasco, o primeiro clube a aceitar negros, mulatos e brancos pobres na sua equipe, quando o esporte ainda era exclusividade dos barões, ganha a
Copa do Brasil, essa espécie de Coluna Prestes ludopédica, que abarca o sertão e o cais. Que o título
vire símbolo. Só o time da Colina pode desbravar de
novo uma campanha, na contramão da história,
por um futiba de massa, que não caia no conto elitista de sequestrar a geral dos estádios. Só o Vasco,
prezado Dinamite, pode sair na frente.
O Flamengo e o Corinthians,
também de origens proletárias,
só pensam em luxo e riqueza.
Quem sabe uma aliança com o
Internacional, outro pioneiro no
embate de classes. Quem sabe
o Santa lá no Recife, com seu
bravo lumpesinato, também
abrace a causa.
O mundo gira e a lusitana roda, a história carecia
de um Vasco forte exatamente agora. O Vasco de
Almir Pernambuquinho e de Juninho Pernambucano. O Vasco dos patrícios, da padaria e de todas as
adegas, do trabalho e da bagaceira, do português
que sai da piada para entrar na história, reescrevendo, com a Bic que escorre atrás da orelha, um
novo Lusíadas.
Cesse toda a obviedade que a resenha esportiva
canta. Sem essa de achar que Copa do Brasil vale
pela vaga na Libertadores. Tudo bem, dá acesso, o
futuro a Deus e a dom Sebastião pertencem. O que
vale, porém, é a mais nacional das pelejas, não esse
Sonolentão-2011 apenas com 20 clubes da elite.
Agora, rumo ao Santos Dumont, vejo uma imagem inesquecível, a multidão vascaína arrastando
o ônibus do clube como se fosse uma caravela gigante, uma arca de Noé que desliza no seco como se
no oceano dos grandes conquistadores.
“Não sou eu quem me navega, quem me navega
é o mar.” Eis a trilha sonora, do vascaíno Paulinho
da Viola, ecoando sobre a velha Guanabara.

xico.folha@uol.com.br

@xicosa

Leave a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.