Governo de SP veta jaleco fora do trabalho

Governo de SP veta jaleco fora do trabalho


Objetivo é evitar que bactérias sejam levadas na roupa para dentro dos hospitais; para médicos, lei é inócua

Na opinião do deputado autor da lei, médicos
a criticam porque o avental branco confere a eles um “certo status”

CLÁUDIA COLLUCCI

DE SÃO PAULO

Médicos e outros profissionais de saúde do Estado de
São Paulo estão proibidos de
usar jalecos e aventais fora
do ambiente de trabalho. A
lei, sancionada pelo governador Geraldo Alckmin
(PSDB), foi publicada ontem
no “Diário Oficial” do Estado.

A justificativa é que, ao circular pelas ruas com o uniforme, os profissionais podem carregar para dentro dos
hospitais bactérias e outros
micro-organismos, que ficam grudados na roupa.

A lei, proposta pelo deputado Vitor Sapienza (PPS),
prevê multa de dez Unidades
Fiscais do Estado de São Paulo (R$ 174,50) ao profissional
que for pego com uniforme
nas ruas. A multa será em dobro na reincidência, mas o
governo ainda não sabe como será a fiscalização.

Estudos demonstram que
bactérias com potencial de
causar infecções hospitalares podem resistir semanas
nos jalecos e aventais. Mas
não há evidências de que essas bactérias vão causar, de
fato, infecções.

Infectologistas ouvidos
pela Folha consideram a lei
inócua e afirmam que a falta
de higiene é a principal fonte
das infecções nos hospitais.

“Seria muito mais útil fazer uma campanha para que
os médicos e os outros profissionais lavem as mãos”, diz
Caio Rosenthal, do Instituto
de Infectologia Emílio Ribas.

Segundo ele, o maior perigo é quando profissional de
saúde manipula um paciente
portador de uma bactéria resistente, não lava as mãos
corretamente e, depois, toca
em outros doentes.

Para o médico José Erivaldes Guimarães Júnior, diretor da Federação Nacional
dos Médicos e professor da
Unifesp, a lei não tem nenhuma importância para a saúde
pública. “Fundamental é lavar as mãos, é ter médicos e
equipamentos nos postos.”

Levantamento do Cremesp (Conselho Regional de
Medicina) e do Ministério Público Estadual em 65 hospitais públicos e 93 hospitais
privados da capital e do interior mostrou que em 28% deles não havia nas áreas críticas o básico para reduzir infecções, como uma pia.

Ontem, das 18h às 18h45, a
Folha presenciou pelo menos 23 médicos circulando
pelas ruas próximas do Hospital das Clínicas da USP
usando jaleco. Muitos seguiam para a lanchonete Gigi, ao lado do HC.

O deputado Vitor Sapienza
diz que enfrentou resistência
ao seu projeto até entre os colegas de Assembleia. “Mas,
se o governador, que é médico, sancionou, é porque é importante.” Ele acredita que a
resistência à lei esteja no fato
de o avental branco conferir
um “certo status” ao médico.

REGULAMENTAÇÃO

A Secretaria de Estado da
Saúde informou que a lei ainda precisa ser regulamentada, mas não há prazo, e que
ainda serão definidas as formas de fiscalização.

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