A ressaca moral e a vergonha alheia

Eu nunca escrevo sobre isso aqui. A única vez que emiti qualquer posição a respeito de política foi colocando um banner da candidatura do Gabeira na lateral do blog. Mas hoje, após a derrota por pouquíssimos votos, preciso comentar algo. E se você assina apenas o feed do É isso ou não quer ler esse post. Pode parar. Esse é um momento de descontentamento pessoal e político e creio que ninguém queira ler.

A ressaca moral que alguns eleitores terão hoje é horrível. Sabe aquela sensação do dia seguinte de uma bebedeira em que você fez merda atrás de merda, brigou com amigos, ligou para mãe da ex-namorada para criticar a filha da mesma e por aí vai? Pois é, o nome dessa sensação é ressaca moral. É um arrependimento cruel e que geralmente vem acompanhado da pergunta:

“Por que eu fiz isso? Deveria ter parado antes.”

Claro que ninguém acha explicação para ter feito tais fatos mas, mesmo assim, tem que conviver com a responsabilidade dos seus atos.

Hoje, alguns milhares de cariocas devem estar pensando nisso. Esses devem ser aqueles que quando perguntados numa roda de amigos, em quem iriam votar, falavam que era no Gabeira por que era isso que esperavam deles. E eles não tinham peito para dizer que preferem o outro candidato. Eu não acho que quem votou no Eduardo Paes seja burro ou qualquer outra classificação que possa vir associado aos eleitores do novo prefeito do Rio. Nesses eu acho louvável que defendam o que acreditam. Mas acho uma pena os que falam uma coisa, fazem outra e no final, não se sentem responsáveis por seus atos porque os seus amigos ainda acham que ele votou “certo”. Esses não são os indecisos. São os que buscam um status, buscam obter um capital social através de uma opinião que nem é deles. É a opinião do grupo que eles querem fazer parte e é uma opinião que eles não concordam. Mas têm medo de dizer e serem excluídos do grupo. É uma opinião totalmente aspiracional.

Eu prefiro os indecisos com peito de dizer:

“Ainda não sei. Não estou acompanhando…”

do que esses surfistas eleitorais. Vão de acordo com a onda mas são incapazes de dizer que nessa onda eu não vou. Esses são os que acordaram com ressaca moral hoje.

E a vergonha alheia? É aquele momento em que alguém paga um mico daqueles em público, você vê e fica constrangido pela pessoa. Eu estou com vergonha alheia dos mais de 20% de eleitores que preferiram viajar a votar porque tinha um feriado para funcionários públicos na segunda feira. Apenas lembrando que, funcionários públicos, são aqueles que deveriam votar para tentar ter mais benefícios, para ver se a política muda e torcer que o Rio de Janeiro mude. E o pior é que são justamente esses que vão reclamar que do jeito que está não pode ficar, que está muito ruim e vão culpar o governo, seja ele qual for e cujo resultado não tiveram envolvimento na eleição. O problema é que eles tiveram envolvimento sim. Esses 20% de abstenção poderiam mudar a eleição. Poderiam mostrar que a maioria absoluta apoiava o Eduardo Paes e que o folego do Gabeira era realmente da Zona Sul (embora eu acredite que não). Mas isso nós nunca saberemos. E, independente do resultado, eu torço para a minha cidade, o Rio de Janeiro, voltar a ser o que era.

E Gabeira, muito boa a sua coletiva ontem sobre o resultado da eleição. Continuo sendo seu eleitor, independente do cargo que você se candidate.

Esse post teve apenas uma motivação: Estou meio cansado de dizer para os meus amigos que ainda moram no Rio que estou em São Paulo por que é aqui que o dinheiro está e dizer o mesmo para os paulistas que me perguntam se sou louco de largar o Rio para vir para cá.

Agora acabou! de volta a programação normal.

UPDATE: O Noblat tem uma opinião bem válida, interessante e embasada.

1 thought on “A ressaca moral e a vergonha alheia”

  1. Fala Daniel, tudo tranquilo!

    Belo post.
    Sou paulistano, e senti inveja dos cariocas que tinha a opção de votar no Gabeira. Aqui, o que mais se aproximava disso era a Soninha, porém o Gabeira tem uma história política muito mais consistente. Gostava muito de política, e cursei economia por que via uma certa relação com o assunto, no entanto hoje, quanto mais “intelectualizado” eu fico, menos quero saber de política.

    Abraço,

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