2012, ano de decisão para o Twitter – Belo texto do APJ na Folha

2012, ano de decisão para o Twitter

A ironia é que muita gente ganha rios de dinheiro com o Twitter, sem que este tire qualquer vantagem disso

“Está bombando no Twitter.” “Virou ‘trending topic’ no Twitter.” “Só se fala disso no Twitter.”

Todo mundo que, de alguma maneira, trabalha com comunicação, ou acompanha o que se passa na mídia, já ouviu essas frases nos últimos tempos.

Twitter, se você chegou agora de Andrômeda, é um serviço na internet em que o usuário pode descrever o que está fazendo, ou o que lhe passa pela cabeça naquele exato momento, em no máximo 140 caracteres.

Seu lema original era “What’s Happening?” (“o que está acontecendo?”). Mas, hoje, um slogan mais adequado seria “O Que Você Está Pensando?”.

Isso porque o Twitter, fundado em 2006, foi perdendo o simples caráter descritivo e se transformou, na verdade, numa plataforma de “wit”, de sacadas instantâneas, normalmente irônicas, a respeito do que está acontecendo (e, no caso específico brasileiro, “o que está acontecendo” é praticamente sinônimo de “o que está passando na televisão”).

Por intermédio desse serviço, celebridades buscam mostrar uma face humana. Desconhecidos hábeis com as palavras se transformam em heróis cheios de seguidores. Nerds inexpressivos se reinventam como “pundits”, comentaristas prontos a emitir sentenças sobre qualquer assunto. Tímidos que passaram a vida sendo zoados viram garanhões on-line.

A importância do Twitter -ou pelo menos sua influência aparente- tomou tal proporção que destacar-se nessa plataforma chega a ser visto como sinônimo de sucesso no mundo real.

O peso do Twitter se manifesta até na língua. Verbos em inglês usados no site migraram para o português brasileiro na forma de substantivos, acoplados ao verbo “dar”. Assim, “block” (bloquear) foi transposto ao Brasil como “dar um block”. Do mesmo modo, “unfollow” (deixar de seguir, abandonar) virou “dar um unfollow”, ou, para os mais desafortunados, “tomar um unfollow”.

Exposta a situação, vêm as perguntas inevitáveis. Na vida das pessoas reais, o Twitter é mesmo tão importante? Algo bombar no Twitter significa, de fato, triunfo no mundo de verdade?

A resposta, de acordo com uma reportagem recente da revista “New York” (goo.gl/tIibX), é um ressonante “não”. Segundo a publicação americana, apenas 20 mil usuários produzem o conteúdo que realmente repercute no Twitter. Detalhe: o serviço alega ter 175 milhões de usuários registrados, embora o número real esteja mais próximo de 50 milhões (descontando contas inativas e duplicadas).

O quadro pintado pela “New York” é do Twitter como uma frenética sala de espelhos, a autorreferência levada ao paroxismo.

Uma câmera de eco infinita, em que uma elite super conectada fala sobre si e para si, enquanto o que se poderia chamar de lumpesinato digital apenas observa o movimento.

Mais ainda: ao contrário de outras marcas superpoderosas, como Facebook e Google, o Twitter, nos bastidores, vive em constante pandemônio.

Numa atitude inédita entre as grandes empresas da web, os fundadores do Twitter caíram fora justamente quando o site começava a ganhar nome. Um deles, Jack Dorsey, tido como o gênio criador, foi trazido de volta, meses depois, para ver se dava jeito no negócio. Ainda está tentando.

A ironia é que muita gente ganha rios de dinheiro com o Twitter, sem que este tire vantagem. Por exemplo: um “tuiteiro” influente pode cobrar de uma grande empresa para elogiá-la em um tweet. Ele bota dinheiro no bolso, o anunciante ganha visibilidade… e o Twitter fica chupando o dedo.

Como reverter isso? Forrando o site de anúncios, como acabou fazendo o YouTube? Bolando um modelo mais sutil de publicidade, de modo que uma propaganda surja, do nada, em meio aos “tweets”‘ de quem o usuário segue? Cobrando por um “Twitter premium”, seja lá o que isso for?

E como fazer com que a pessoa que se inscreve use mesmo o Twitter, em vez de postar só uma ou duas vezes, achar sem graça e ir cuidar da vida?

O Twitter enfrenta um impasse. É uma plataforma que marcou (ou melhor, está marcando) uma era, a ponto de ser vista, por alguns analistas, como catalisadora dos movimentos antitirânicos da Primavera Árabe. Mas que ainda não encontrou um caminho que lhe garanta a sobrevivência.

O ano de 2012 será decisivo. Porque, na velocidade insana da web, o Twitter, antes mesmo de achar seu rumo, pode ser atropelado por um pós-Twitter, alguma plataforma mais sexy, mais atraente, mais moderna. Quem sabe, mais real.

cby2k@uol.com.br

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